domingo, 29 de junho de 2014

# 134



Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale.
Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?
E porque não tenho uma palavra a dizer.
Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas.


Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H.

# 133



Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão. 
Oh pelo menos no começo, só no começo. Logo que puder dispensá-la, irei sozinha. Por enquanto preciso segurar esta tua mão - mesmo que não consiga inventar teu rosto e teus olhos e tua boca. Mas embora decepada, esta mão não me assusta. A invenção dela vem de tal idéia de amor como se a mão estivesse realmente ligada a um corpo que, se não vejo, é por incapacidade de amar mais. Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira. E como imaginar um rosto se não sei de que expressão de rosto preciso? Logo que puder dispensar tua mão quente, irei sozinha e com horror. O horror
será a minha responsabilidade até que se complete a metamorfose e que o horror se transforme em claridade. Não a claridade que nasce de um desejo de beleza e moralismo, como antes mesmo sem saber eu me propunha; mas a claridade natural do que existe, e é essa claridade natural o que me aterroriza.
Embora eu saiba que o horror - o horror sou eu diante das coisas.


Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H.

sábado, 28 de junho de 2014

# 132



O que importa o nome do autor na capa? Viajemos com o pensamento até daqui a três mil anos. Sabe-se lá que livros da nossa época se terão salvado e de que autores se recordará ainda o nome. Haverá livros que continuarão famosos mas que serão considerados obras anónimas como para nós a epopeia de Gilgamesh; Haverá autores cujo nome será sempre famoso mas de que não ficará nenhuma obra, como aconteceu com Sócrates; ou talvez todos os livros sobreviventes sejam atribuídos a um único autor misterioso, como Homero.


Italo Calvino - Se Numa Noite de Inverno Um Viajante

# 131



No futuro corre, como um rio, o nosso destino, tal como o desenhamos aqui em baixo. No futuro está tudo, porque tudo é possível. Nele, você morreu na semana passada e nele vive para sempre. 


Adolfo Bioy Casares - O Sonho dos Heróis

# 130



Não há inferno nem paraíso, não há Deus, ninguém te observa, ninguém te vigia, ninguém quer castigar-te ou perdoar-te! Depois da morte cairás no fundo do nada, como no fundo do mar escuro, donde já não poderás emergir. Vais afogar-te no vazio silencioso, um vazio donde nunca mais se volta. O teu corpo vai apodrecer na terra fria, a terra vai encher o teu crânio e a tua boca como vasos de flores, a carne vai separar-se dos ossos, vai esborar-se como estrume seco, o teu esqueleto vai esmigalhar-se como carvão, vai desfazer-se em pó, entrarás nesse pântano repugnante onde o teu corpo se decomporá completamente, até ao último cabelo, e nem sequer tens o direito de esperar um regresso, vais desaparecer sozinha no lodo glacial e implacável do nada...


Orham Pamuk - A Casa do Silêncio


# 129



A inveja é a religião dos medíocres. Reconforta-os, responde às inquietações que os roem por dentro e, em última análise, lhes apodrece a alma e lhes permite justificar a sua mesquinhez e cobiça a ponto de acreditarem que são virtudes e que as portas do céu se abrirão apenas aos infelizes como eles, que passam pela vida sem deixar outra marca que não seja a das suas mal-amanhadas tentativas de amesquinhar os outros e de excluir e, se possível for, destruir aqueles que, pelo simples facto de existirem e de serem quem são, põem em evidência a sua pobreza de espírito, mente e entranhas. Bem-aventurado aquele a quem os cretinos ladram, porque a sua alma nunca lhes pertencerá.


Carlos Ruíz Zafón - O Jogo do Anjo


# 128



— Totóca.
— Que é?
— Idade da razão pesa?
— Que besteira é essa?
— Tio Edmundo quem falou. Disse que eu era “precoce” e que ia entrar logo na idade da razão. E eu não sinto diferença.
— Tio Edmundo é um bobo. Vive metendo coisas na sua cabeça.
— Ele não é bobo. Ele é sábio. E quando eu crescer quero ser sábio e poeta e usar gravata de laço. Um dia eu vou tirar retrato de gravata de laço.
— Por que gravata de laço?
— Porque ninguém é poeta sem gravata de laço. Quando Tio Edmundo me mostra retrato de poeta na revista, todos têm gravata de laço.
— Zezé, deixe de acreditar em tudo que ele fala pra você. Tio Edmundo é meio trongola. Meio mentiroso.
— Então ele é filho da puta?
— Olhe que você já apanhou na boca de tanto dizer palavrão; Tio Edmundo não é isso. Eu falei trongola. Meio maluco.
— Você falou que ele era mentiroso.
— Uma coisa nada tem a ver com a outra.
— Tem, sim. Noutro dia Papai conversava com seu Severino, aquele que joga escopa e manilha com ele e falou assim de seu Labonne: “o filho da puta do velho mente pra burro"... E ninguém bateu na boca dele.
— Gente grande pode dizer, que não faz mal.


José Mauro de Vasconcelos - O Meu Pé de Laranja Lima

# 127



Se não estivesse na rua eu começava a cantar. Cantar era bonito. Totóca sabia fazer outra coisa além de cantar, assobiar. Mas eu por mais que imitasse, não saía nada. Ele me animou dizendo que era assim mesmo, que eu ainda não tinha boca de soprador. Mas como eu não podia cantar por fora, fui cantando por dentro. Aquilo era esquisito, mas se tornava muito gostoso. E eu estava me lembrando de uma música que Mamãe cantava quando eu era bem pequenininho. (...) Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender. Totóca me deu um puxão. Eu acordei.
— Que é que você tem, Zezé?
— Nada. Tava cantando.
— Cantando?
— É.
— Então eu devo estar ficando surdo.
Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro? Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.


José Mauro de Vasconcelos - O Meu Pé de Laranja Lima

quarta-feira, 25 de junho de 2014

#126



Foi no terceiro dia, penso eu, de ele estar comigo, e antes de ter surgido qualquer necessidade de conferir o que ele copiava, que, muito apressado em dar por concluído um pequeno trabalho que tinha entre mãos, chamei de repente por Bartleby. Com a pressa, e na expectativa, natural, de ser imediatamente atendido, fiquei sentado à secretária, com a cabeça inclinada sobre o original, e a mão direita nervosamente estendida para o lado com a cópia, de modo que, imediatamente após surgir do seu recanto, Bartleby a agarrasse, procedendo à tarefa sem a mínima demora. 
Sentado, e nesta atitude, foi que o chamei, dizendo rapidamente o que pretendia que ele fizesse - ou seja, conferir comigo um pequeno documento. Imagine-se a minha surpresa, ou antes, a minha consternação, quando, e sem se mover do seu retiro, Bartleby, numa voz singularmente suave e firme, me respondeu: - Preferia não o fazer.
Permaneci sentado um momento, em completo silêncio, tentando recompor as minhas faculdades aturdidas. E logo me ocorreu que os meus ouvidos me haviam enganado, ou que Bartleby havia compreendido mal o significado das minhas palavras. Repeti o meu pedido no tom mais claro que me foi possível; e num semelhante, veio a resposta anterior: 
- Preferia não o fazer.
- Preferia não o fazer! - repeti eu, como um eco, levantando-me muito excitado e atravessando o aposento de uma passada. - O que quer dizer? Está louco? Quero que me ajude a conferir esta folha. Tome! - e estendi-lha.
- Preferia não o fazer - repetiu.
Olhei-o com firmeza. O seu semblante mantinha-se tranquilo; os olhos, cinzentos e calmos. Nem uma ruga de inquietação o agitava. Tivesse havido na sua atitude o mínimo de inquietação, cólera, de impaciência ou impertinência: por outras palavras, tivesse havido alguma coisa de ordinariamente humano nele, sem dúvida que eu logo o teria despedido sem qualquer contemplação. Mas tal como se apresentava, mais depressa eu teria posto porta fora o meu pálido busto em gesso de Cícero.


Herman Melville - Bartleby

domingo, 22 de junho de 2014

# 125



O pequeno-almoço com Jim costumava ser uma das alturas melhores do dia. Era então, enquanto bebiam duas e três chávenas de café, que mantinham as melhores conversas. Falavam sobre tudo o que lhes vinha à cabeça, incluindo a morte, é claro, e, no caso de haver outra vida, o que é que sobrevivia exactamente. Discutiam mesmo as relativas vantagens e desvantagens de uma morte instantânea e de saber-se que se está prestes a morrer. Mas agora George não consegue lembrar-se das opiniões que Jim tinha a este respeito. É difícil tomar a sério questões como essa. Parecem tão académicas.
Imaginemos que os mortos vêm visitar os vivos. Que qualquer coisa mais ou menos parecida com Jim pode voltar cá para ver como George está a sair-se. Isto seria satisfatório? E valeria mesmo a pena? Na melhor das hipóteses, assemelhar-se-ia decerto à curta visita de um observador de outro país a quem é permitido espreitar por instantes dos vastos campos da sua liberdade e contemplar, à distância, através do vidro, este vulto solitário, sentado a esta mesa, numa sala estreita, a comer os seus ovos escalfados, humilde e melancólico, um condenado a prisão perpétua.


Christopher Isherwood - Um Homem Singular

# 124



Será que alguma vez é a altura certa para morrer? Para Flaubert não foi; nem para George Sand, que morreu antes de ler Um Coeur Simple: "Tinha-o começado só para ela, só para lhe agradar. Morreu quando eu estava a meio do trabalho. É assim com todos os nossos sonhos." Será melhor não ter os sonhos nem o trabalho e ter depois a desilusão da obra incompleta? Talvez, como Fréderic e Deslauriers, devêssemos preferir a alegria da não-consumação: a visita planeada ao bordel, o prazer da antecipação, e depois, anos mais tarde, não a memória de feitos mas a memória de antecipações passadas? Assim não se manteria tudo mais puro e menos doloroso?


Julian Barnes - O Papagaio de Flaubert

sábado, 21 de junho de 2014

# 123



As escadas formam uma curva; são estreitas e inclinadas. É possível tocar nos dois corrimãos com os cotovelos e temos de baixar a cabeça, mesmo que, como George, não tenhamos mais de um metro e sessenta de altura. É uma casa pequena, em que o espaço foi meticulosamente estudado. É frequente George sentir-se protegido pela sua pequenez, aqui quase não há espaço para nos sentirmos sós.
No entanto...
Pensem em duas pessoas vivendo juntas dia após dia, ano após ano, neste espaço exíguo, cozinhando lado a lado no mesmo pequeno fogão, comprimindo-se ao cruzarem-se nas escadas, barbeando-se diante do mesmo espelhinho da casa de banho, acotovelando-se constantemente, empurrando-se, chocando uma com a outra por engano ou de propósito, com sensualidade, com agressividade, com falta de jeito, com impaciência, por raiva ou por amor...Pensem quão profundos, ainda que invisíveis, são os traços que deixam por toda a parte, atrás de si! A porta que dá para a cozinha é demasiado estreita. Duas pessoas à pressa, com pratos de comida na mão, esbarram aqui com a maior facilidade. E é aqui, quase todas as manhãs, que George, ao chegar ao fundo das escadas, tem a sensação de se encontrar, de súbito, numa aresta abrupta, brutalmente interrompida, recortada...Como se o trilho tivesse desaparecido no meio de um desabamento de terras. É aqui que ele pára de repente e se apercebe, com uma doentia sensação de novidade, quase como se fosse pela primeira vez, de que Jim morreu. Morreu.


Cristopher Isherwood - Um Homem Singular

# 122



Os livros que não se escreveram? Não é razão para ressentimentos. Há já livros de mais. Além disso, lembro-me do fim de L'Education Sentimentale. Fréderic e o seu companheiro Deslauriers analisam as suas vidas. A última recordação, e a que preferem, é a de uma visita a um bordel anos antes, ainda no tempo de liceu. Tinham planeado a visita em pormenor, tinham ondulado especialmente o cabelo para a ocasião, e até tinham roubado flores para as raparigas. Mas quando chegaram ao bordel, Fréderic perdeu a coragem e fugiram ambos. Esse foi o melhor dia das suas vidas. Não será a melhor forma de prazer, pressupõe Flaubert, o prazer da antecipação? Quem é que tem necessidade de chegar ao sotão vazio da consumação?


Julian Barnes - O Papagaio de Flaubert

# 121



Por que é que a escrita nos faz procurar o escritor? Por que é que não o deixamos em paz? Por que é que os livros não bastam? Flaubert queria que fosse assim: poucos escritores acreditaram mais na objectividade do texto escrito e na insignificância da personalidade do escritor; mas mesmo assim desobedecemos e continuamos. A imagem, o rosto, a assinatura: a estátua com noventa e três por cento de cobre e a fotografia de Nadar; o bocado de tecido e a mecha de cabelo. O que é que nos torna ávidos de relíquias? Não acreditamos suficientemente nas palavras? Pensamos que os despojos de uma vida têm uma verdade ancilar? Quando Robert Louis Stevenson morreu, a sua ama, com um espírito de negócio de boa escocesa, começou calmamente a vender cabelo que afirmava ter cortado da cabeça do escritor quarenta anos antes. Os crentes, os investigadores, os exploradores, compraram cabelo que chegava para estofar um sofá.


Julian Barnes - O Papagaio de Flaubert

domingo, 8 de junho de 2014

# 120



Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer - nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior - muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém me está dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.
Ir para o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha liberdade. Entregar-me ao que não entendo será pôr-me à beira do nada. Será ir apenas indo, e como uma cega perdida num campo. Essa coisa sobrenatural que é viver. O viver que eu havia domesticado para torná-lo familiar.


Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

# 119



Toda a compreensão súbita é finalmente a revelação de uma aguda incompreensão. Todo momento de achar é um perder-se a si próprio.

Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

# 118



Mas como adulto terei a coragem infantil de me perder? perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando.

Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

# 117



Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exactamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra - como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?

Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

# 116



- - - - - - estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.

Clarice Lispector - A Paixão segundo G.H.

sábado, 7 de junho de 2014

# 115



Por várias vezes Axler se sentou a um canto da sala de jogos com o grupinho de doentes suicidas, a ouvi-los recordar a determinação com que tinham planeado morrer e lamentar a forma como tinham fracassado. Cada um deles continuava imerso na magnitude da sua tentativa de suicídio e na ignomínia de lhe ter sobrevivido. Haver quem fosse mesmo capaz de o fazer, quem fosse capaz de ter domínio sobre a sua própria morte, era para todos um motivo de fascínio - era o seu tema de conversa natural, como é para os rapazes falar de desporto. Vários deles descreviam uma sensação idêntica à excitação que um psicopata deve sentir quando mata alguém, e que os invadia quando tentavam matar-se. Dizia uma mulher jovem: "A nós mesmos e a quantos nos rodeiam parecemos paralisados e absolutamente impotentes e no entanto somos capazes de decidir cometer o acto mais difícil que existe. É estimulante. É revigorante. É eufórico." "Sim, disse outro dos presentes, "sente-se uma euforia impiedosa. A nossa vida está a desmoronar-se, perdeu o centro, e o suicídio é a única coisa que está nas nossas mãos." Um homem de idade, professor primário aposentado que tinha tentado enforcar-se na garagem, deu-lhes uma aula sobre o que os "de fora" pensam sobre o suicídio. "A única coisa que toda a gente quer fazer com o suicídio é explicá-lo. Explicá-lo e julgá-lo. É uma coisa tão desconcertante para quem ficou para trás que têm de arranjar maneira de pensar sobre ela. Há quem considere o suicídio um acto de cobardia. Há quem o considere um crime, um crime contra os sobreviventes. Há outra escola de pensamento que o acha heróico e um acto de coragem. E depois há os puristas. Para esses, a questão é: justificava-se, havia motivo suficiente? O ponto de vista mais clínico, que não o penaliza nem o idealiza, é o do psicólogo, que tenta descrever o estado de espírito do suicida, qual era o seu estado de espírito quando cometeu o acto." Repetia este discurso entediante praticamente todas as noites, como se não fosse um doente angustiado como os outros mas sim um orador convidado para elucidar o tema que os angustiava noite e dia. Num dos serões Axler tomou a palavra - para representar, como então reparou, perante a sua plateia mais vasta desde que tinha deixado os palcos. "O suicídio é o papel que escrevemos para nós mesmos", disse-lhes. "Vivemos dentro dele e representamo-lo. Tudo cuidadosamente encenado - onde nos encontrarão e como nos encontrarão". E acrescentou: "Mas só o representamos uma vez."


Philip Roth - A Humilhação

# 114



Uma pessoa chega a um ponto de desespero em que tenta tudo para explicar o que lhe está a acontecer, mesmo que saiba que isso não explica coisa nenhuma e que as explicações falhadas se sucedem.


Philip Roth - A Humilhação

# 113



Subir ao palco e não ser capaz de representar fazia parte do catálogo de sonhos que quase todos os doentes referiam, mais cedo ou mais tarde. Era isso e caminhar nu por uma movimentada rua citadina ou não estar preparado para um exame decisivo ou cair de um penhasco ou verificar em plena auto-estrada que o carro não tem travões.

Philip Roth - A Humilhação