segunda-feira, 20 de julho de 2015

# 250



posso dizer tranquilamente que, entre a vida e os livros, fico com estes, porque me ajudam a entendê-la. A literatura permitiu-me sempre compreender a vida. Mas precisamente por isso deixa-me à margem dela.


Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

domingo, 19 de julho de 2015

# 249



Não gosto nada das pessoas contentinhas. Se dependesse delas, a literatura já tinha desaparecido da face da terra. No entanto, as pessoas "normais" são apreciadas em todo o lado. Todos os assassinos são, para os seus vizinhos, tal como se vê sempre na televisão, pessoas satisfeitas e normais.
(...)
Odeio esta grande parte da humanidade "normal" que dia a dia destrói o meu mundo. Odeio as pessoas que são de uma grande bondade porque ninguém lhes deu a oportunidade de saber o que é o mal e poderem então escolher livremente o bem; pareceu-me sempre que esse tipo de gente bondosa é gente de uma maldade extraordinária em potência. 

Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

# 248



existe uma actividade que poderíamos chamar proustiana, que consiste em recordar com sensibilidade e inteligência coisas do passado. (...) existe uma magnífica retaguarda literária na arte de contar histórias melancólicas.


Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

# 247



para qualquer lado que nos voltemos, chocamos logo com a incorrigível vulgaridade da humanidade, que está em legiões em todo o lado, enchendo tudo e sujando tudo, como as moscas no verão


Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

# 246



vivo rodeado de citações de livros e autores. Enfermo da literatura.


Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

# 245



Talvez literatura seja isso: inventar outra vida que bem poderia ser a nossa, inventar um duplo.

Enrique Vila-Matas - O Mal de Montano

segunda-feira, 13 de julho de 2015

# 244



a filosofia parece ocupar-se só da verdade, mas talvez diga só fantasias, e a literatura parece ocupar-se só de fantasias, mas talvez diga a verdade.

Antonio Tabucchi - Afirma Pereira

domingo, 5 de julho de 2015

# 243



além de tentar sem sorte nenhuma afligir com o meu desaparecimento os seres queridos (vou vendo que não tenho), vim para aqui para me narrar a história do ambíguo desaparecimento do sujeito na nossa civilização e contar-ma através de uns fragmentos da história da minha vida, como se me tivessem injectado a mim mesmo toda essa história da subjectividade no Ocidente e, além disso, me tivessem instruído para que tentasse desaparecer contando, passo a passo, como vou levando a cabo a cerimónia do meu eclipse.


Enrique Vila-Matas - Doutor Pasavento

# 242



As ruínas remetem sempre para algo que não desapareceu de todo.


Enrique Vila-Matas - Doutor Pasavento

# 241



pode dizer-se que o sujeito moderno não surgiu do contacto com o mundo, mas sim em quartos isolados onde os pensadores se encontravam sozinhos com as suas certezas e incertezas, sozinhos consigo mesmos.


Enrique Vila-Matas - Doutor Pasavento

# 240



suspeito que, paradoxalmente, toda essa paixão por desaparecer, todas essas tentativas, chamemos-lhe suicidas, são ao mesmo tempo tentativas de afirmação do meu eu.


Enrique Vila-Matas - Doutor Pasavento