sexta-feira, 1 de abril de 2016

# 295



tornei-me medroso. Conheço essas pequenas frases que parecem não ser nada e que, uma vez admitidas, são capazes de empestar uma língua inteira. Nada é mais real do que o nada. Saem do abismo e não descansam enquanto para lá não arrastam tudo.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 294


Pedi certos movimentos às minhas pernas, aos meus pés. Conheço-os tão bem que pude sentir o esforço que faziam para me obedecerem.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 293



Não desisto ainda.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 292



Um pouco de sombra, por si só, no momento, não é nada. Não se pensa mais no assunto, e continua-se, em plena claridade. Mas eu conheço a sombra, acumula-se, adensa-se, depois explode de súbito e cobre tudo.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 291



Vivi numa espécie de coma.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 290



Outrora não sabia para onde ia, mas sabia que havia de chegar, sabia que havia de se cumprir a longa etapa cega.
(...)
Atrai-me a névoa antiga.
(...)
sinto que talvez não a percorra até ao fim, a estrada bem traçada. Mas tenho alguma esperança.


Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 289



Talvez não tenha tempo de acabar.

(...)

Passei toda a vida a refrear-me de fixar o balanço, dizendo para comigo, a vinda é cedo, ainda é cedo. Pois bem, ainda é cedo. Passei a vida toda a sonhar com o momento em que, ao fixar-me finalmente, na medida em que isso é possível antes de se ter perdido tudo, poderia fazer as contas e apurar o resultado.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 288



Desta vez sei por onde vou. Já não é a noite de outros tempos, de outrora. (...) Até aqui nunca soube brincar. Apetecia-me, mas sabia que era impossível. Apesar de tudo, esforcei-me, muitas vezes.
(...)
Tudo começava bem (...) Mas não tardava a ficar outra vez sozinho, sem luz. Foi por isso que renunciei a brincar e para sempre fiz meus o informe e o inarticulado, as hipóteses desinteressantes, a sombra, a longa caminhada de braços estendidos para diante, o esconderijo.

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer

# 287



Sim, finalmente vou ser natural, sofrerei mais e depois menos

Samuel Beckett - Malone Está A Morrer