terça-feira, 15 de agosto de 2017
# 357
E houve essa noite em Esmirna, onde obriguei o objecto amado a suportar a presença de uma cortesã. A criança fazia do amor uma ideia que se mantinha austera, porque era exclusiva: o seu desgosto foi até à náusea. Depois habituou-se. Aquelas vãs tentativas explicavam-se bastante pelo gosto da devassidão; misturava-se a isso a esperança de inventar uma intimidade nova em que o companheiro de prazer não deixaria de ser o bem-amado e o amigo: o desejo de instruír o outro, de fazer passar a sua juventude por experiências que haviam sido as da minha; e talvez, mais inconfessada, a intenção de o rebaixar pouco a pouco ao plano das delícias vulgares que não obrigam a qualquer compromisso.
Havia angústia naquela minha necessidade de ferir aquela ternura desconfiada que ameaçava embaraçar a minha vida.
Marguerite Yourcenar - Memórias de Adriano
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