terça-feira, 27 de agosto de 2013

# 86



(...) poderia ver-se a si mesma, ou julgava ver-se - como uma pequena figura solitária arrastando a carga desses antepassados, as suas fraquezas e desvarios (que poderia inventar, quando os desconhecesse) no sangue; era uma vítima de forças obscuras - toda a gente o é, não se pode escapar a isso! - mal compreendida e trágica, contudo pelo menos, com vontade própria! Mas para que servia a vontade quando não se possuía fé? (...) Era isso também que ela procurava e sempre procurara em todos os tempos e em todas as coisas, uma fé qualquer - como se uma pessoa a pudesse encontrar como quem descobre um chapéu novo, ou uma casa para alugar! - Sim, era o que ela estava agora a pontos de encontrar e perder - era melhor ter fé numa causa do que não possuir fé absolutamente nenhuma. (...) Mas porque é que seria que ela, ricamente dotada de uma enorme capacidade de viver, não conseguira encontrar nunca uma fé suficiente na vida? E ainda se aquilo fosse tudo! Fé no amor desprovido de egoísmo - nas estrelas! Talvez isso bastasse. E, no entanto, era inteiramente verdade que ela não tinha nunca desistido, ou deixado de ter esperança, ou de tentar, numa ânsia, encontrar um significado, um padrão, uma resposta...


Malcolm Lowry - Debaixo do Vulcão

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