sexta-feira, 30 de agosto de 2013

# 94



A morte (ou a sua alusão) torna os homens preciosos e patéticos. Estes comovem pela sua condição de fantasmas; cada acto que executam pode ser o último; não há rosto que não esteja por apagar-se como o rosto de um sonho. Tudo, entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do fruto do acaso. Entre os Imortais, em contrapartida, cada acto (e cada pensamento) é o eco de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o fiel presságio de outros que no futuro o repetirão até à vertigem. Não há coisa que não esteja como que perdida entre infatigáveis espelhos. Nada pode acontecer uma só vez, nada é preciosamente precário. O elegíaco, o grave, o cerimonioso, não vigoram para os Imortais.


Jorge Luís Borges - O Imortal - O Aleph

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