sábado, 28 de junho de 2014

# 128



— Totóca.
— Que é?
— Idade da razão pesa?
— Que besteira é essa?
— Tio Edmundo quem falou. Disse que eu era “precoce” e que ia entrar logo na idade da razão. E eu não sinto diferença.
— Tio Edmundo é um bobo. Vive metendo coisas na sua cabeça.
— Ele não é bobo. Ele é sábio. E quando eu crescer quero ser sábio e poeta e usar gravata de laço. Um dia eu vou tirar retrato de gravata de laço.
— Por que gravata de laço?
— Porque ninguém é poeta sem gravata de laço. Quando Tio Edmundo me mostra retrato de poeta na revista, todos têm gravata de laço.
— Zezé, deixe de acreditar em tudo que ele fala pra você. Tio Edmundo é meio trongola. Meio mentiroso.
— Então ele é filho da puta?
— Olhe que você já apanhou na boca de tanto dizer palavrão; Tio Edmundo não é isso. Eu falei trongola. Meio maluco.
— Você falou que ele era mentiroso.
— Uma coisa nada tem a ver com a outra.
— Tem, sim. Noutro dia Papai conversava com seu Severino, aquele que joga escopa e manilha com ele e falou assim de seu Labonne: “o filho da puta do velho mente pra burro"... E ninguém bateu na boca dele.
— Gente grande pode dizer, que não faz mal.


José Mauro de Vasconcelos - O Meu Pé de Laranja Lima

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