Não há inferno nem paraíso, não há Deus, ninguém
te observa, ninguém te vigia, ninguém quer castigar-te ou perdoar-te!
Depois da morte cairás no fundo do nada, como no fundo do mar escuro,
donde já não poderás emergir. Vais afogar-te no vazio silencioso, um
vazio donde nunca mais se volta. O teu corpo vai apodrecer na terra
fria, a terra vai encher o teu crânio e a tua boca como vasos de flores,
a carne vai separar-se dos ossos, vai esborar-se como estrume seco, o
teu esqueleto vai esmigalhar-se como carvão, vai desfazer-se em pó,
entrarás nesse pântano repugnante onde o teu corpo se decomporá
completamente, até ao último cabelo, e nem sequer tens o direito de
esperar um regresso, vais desaparecer sozinha no lodo glacial e
implacável do nada...
Orham Pamuk - A Casa do Silêncio
Orham Pamuk - A Casa do Silêncio
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