sábado, 10 de junho de 2017

# 296


cada vez compreendíamos menos o que é um peixe, por esse caminho de não compreender íamos aproximando-nos deles, que não se compreendem

(...)

e pensávamos nessa coisa incrível que tínhamos lido, que um peixe sozinho no aquário entristece, e que basta pôr um espelho à sua frente para que ele volte a estar contente...

(...)


Descobríamos como a vida se instala em formas privadas de terceira dimensão, que desaparecem se se põem de lado ou deixam apenas uma pequena risca rosada imóvel e vertical na água. Um golpe de barbatana e aí está monstruosamente mais uma vez, com os olhos bigodes e barbatanas e do ventre por vezes saindo e flutuando uma fita de excremento que não se solta totalmente, um empecilho que de repente os coloca entre nós, arranca-os da sua perfeição de imagens puras, compromete-os


Júlio Cortázar - O Jogo do Mundo (Rayuela)

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