sexta-feira, 23 de março de 2018

# 405


Por cima de uma porta não sei onde havia um letreiro que me obrigava a um soletrar intrigado (...) Aquilo parecia-me uma grafia cirílica. Alfabeto eslavo?
Cada vez que passava lá com a Edite apontava-o sem mais nada e ela, já sem levantar os olhos, respondia BANHOS. Então sim, eu conseguia ler e reconhecia a palavra.
(...)
de tanto o estudar a sós e de o saber impossível o letreiro fez com que me interrogasse
sem exactidão de consciência é certo sem sobressalto
mas a interrogar-me
se não estaria a caminhar para a loucura.
Inacreditável. Eu, o Outro de mim, em viagem de passos perdidos e a interrogar-me se não estaria a caminhar para a loucura. E o caso é que, desconcertante ou não, a pergunta aconteceu. E para maior surpresa, não a esqueci. Loucura, caminho para a loucura, a questão chegou-me com uma insistência passageira mas no estado em que me encontrava o que seria para mim a loucura?

José Cardoso Pires - De Profundis, Valsa Lenta

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