sábado, 19 de agosto de 2023

# 540

 

Sentada à minha frente no metro em Toronto, uma mulher lê a edição da Penguim de Labirintos, de Borges. Apetece-me interpelá-la, acenar-lhe, fazer-lhe sinal de que também pertenço à mesma fé. Ela, cujo rosto esqueci, em cujas roupas mal reparei, de quem não sei sequer a idade, está mais próxima de mim, pelo mero acto de segurar nas mãos aquele livro em particular, do que muitas outras pessoas que vejo diariamente. Uma prima minha de Buenos Aires, como tinha consciência clara de que os livros podiam funcionar como emblema, um sinal de aliança, escolhia sempre o livro que levava em viagem com o mesmo cuidado com que escolhia a mala de mão. 


Uma História da Leitura - Alberto Manguel 

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