quinta-feira, 15 de agosto de 2013

# 66



(...) o que ele queria era - reconhecia-o agora claramente - era falar com alguém - eis do que ele necessitava - mas precisava, afinal, ainda de mais uma coisa - o que ele queria implicava qualquer coisa semelhante ao agarrar naquele momento uma brilhante oportunidade, ou, para ser mais preciso, uma oportunidade de ser brilhante, uma oportunidade justificada por aquela aparição do Sr. Quincey, por entre as roseiras bravas, que, agora, tinha à sua mão direita e que teria de evitar se quisesse vir à fala com o vizinho. Contudo, aquela oportunidade de ser brilhante era, por sua vez, mais parecida com qualquer outra coisa; com a oportunidade de se sentir admirado e mesmo - podia agradecer à tequila o conferir-lhe tamanha franqueza para consigo mesmo, por muito breve que fosse a duração de semelhante atitude - de se sentir estimado. Estimado ao certo porquê? Ora aí estava outro problema: desde que o pusesse a si mesmo, poderia solucioná-lo da seguinte forma: "Estimado pelo meu descuido e aparência de irresponsabilidade, ou mesmo pelo facto de, por baixo desta aparência, arder óbvia e intensamente o fogo do génio, o qual não é precisamente o meu génio, mas, por muito extraordinário que isso pareça, o do meu velho e bom amigo Abraham Taskerson, o grande poeta que, em tempos, com tamanho ardor falava das minha possibilidades literárias de jovem."


Malcolm Lowry - Debaixo do Vulcão

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