quarta-feira, 21 de agosto de 2013

# 73



Vinte e nove nuvens. Aos vinte e nove, já um homem podia dizer que andava nos trinta. E ele tinha vinte e nove. E agora, finalmente, embora esse sentimento se tivesse avolumado dentro dele durante toda a manhã, Hugh sabia o que aquilo era: o intolerável choque que poderia ter vindo aos vinte e dois, mas que nessa altura não se verificara; que devia ter chegado pelo menos aos vinte e cinco, mas ainda nessa altura se lhe recusara, esse conhecimento até aí apenas associado com gente vacilando à beira do túmulo (...), que consiste em saber-se o seguinte: uma pessoa não pode ser eternamente jovem; na verdade, um indivíduo perde a juventude num abrir e fechar de olhos. É que, em menos de quatro anos, que passam tão velozmente como o cigarro que hoje se fumou e que parece ser o que ontem se consumiu, uma pessoa chega aos trinta e três; daí a sete, aos quarenta; em quarenta e sete, aos oitenta. Sessenta e sete anos dão-nos a confortável sensação de muito tempo, mas a verdade é que nessa altura, desejar-se-á viver até aos cem. Já não sou um menino-prodígio. Já não tenho desculpa para continuar a proceder como se fosse um irresponsável. No fim de contas, não sou nenhum estoira-vergas. Não sou criança. Por outro lado, sou um impulsivo. Não sou? És um mentiroso, disseram as árvores que se baloiçavam no jardim.


Malcolm Lowry - Debaixo do Vulcão

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