terça-feira, 27 de agosto de 2013

# 88



(...) Claudio Magris é de opinião que essa viagem circular de um pletórico Ulisses que regressa a casa - a viagem tradicional, clássica, edipiana e conservadora de Joyce - foi substituída em meados do século XX pela viagem rectilínea: uma espécie de peregrinação, de viagem que avança sempre em frente, para um ponto impossível do infinito, como uma recta que avança a titubear no nada.
Agora, ele poderia ver-se como um viajante rectilíneo, mas não quer colocar-se muitos problemas e decide que a sua viagem pela vida é tradicional, clássica, edipiana e conservadora. Pois não está a voltar para casa de táxi? Não vai a casa dos pais sempre que regressa de uma viagem e, ainda por cima, os visita sem falta todas as quartas-feiras? Não anda a preparar uma viagem a Dublin e ao próprio centro de Ulysses para, dias depois, bonacheiramente, regressar a Barcelona a sua casa e a casa dos seus pais e contar-lhes a viagem? É quase inegável que leva uma vida na mais pura ortodoxia da viagem circular.


Enrique Vila- Matas - Dublinesca

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