terça-feira, 26 de agosto de 2014

# 180



As horas, os minutos, inclusive os segundos são compreensíveis, uma vez que podem ser medidos por um relógio, mas o que é que as pessoas querem dizer quando falam num instante, um bocadinho, um momento, um segundinho? São apenas palavras, como é óbvio, porém estão suspensas sobre insondáveis profundezas. O tempo flui, ou será uma sucessão de quietudes - instantes - movendo-se tão velozmente que nos parece que se unem numa onda sem quebras? Ou haverá apenas uma grande quietude, estendendo-se em todos os sentidos, em todas as direcções, através da qual nos movemos como nadadores, enfrentando um mar infinito e indiferente? E porque é que varia? Porque é que o tempo de uma dor de dentes é tão diferente do tempo em que se está a comer um rebuçado, um dos muitos rebuçados que com o tempo causarão mais uma cárie? Existem luzes no céu, neste momento, que partiram das suas fontes há um bilião de anos. Mas existem luzes? Não, apenas luz, fluindo incessantemente, movendo-se, a cada instante. 
Tudo se funde nas margens, tudo se infiltra em tudo. Nada é separado.


John Banville - Os Infinitos

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