segunda-feira, 29 de junho de 2015

# 238



pus-me a pensar na magia das despedidas radicais, no encanto das despedidas radicais dessas pessoas que tanto admiramos quando vimos a saber que foram capazes de mandar tudo para o diabo, que bateram com a porta e se foram embora, não sem antes dizer fiquem aí, seus cabrões.
Quando ouvimos dizer que alguém deixou toda a gente pendurada, nós em silêncio, com raiva contida, aprovamos esse audaz, purificador, elementar impulso. Como não haveríamos de aprovar se todos odiamos o nosso domicílio, o lar nos aborrece, ter de estar nele? Eu, pelo menos, já as tinha começado a jurar ao meu domicílio. Era um entusiasta da Teoria de los abandonos, um poema de Philip Larkin: "Todos odiamos a nossa casinha, / ter de viver nela: / eu detesto o meu quarto, / os seus trastes especialmente escolhidos / a bondade dos livros e a cama / e a minha vida perfeitamente em ordem."


Enrique Vila-Matas - Doutor Pasavento

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