sexta-feira, 5 de julho de 2019

# 448



Em 1923, um grupo de jovens sapadores fazia o levantamento topográfico de uma parte inacessível de África. No final de um dia de trabalho particularmente penoso, sob o sol tropical, restava marcar apenas uma colina na mesa topográfica. Os homens ansiavam por regressar à base; ocorreu a um deles que, tratando-se de uma única colina, seria fácil preenchê-la, pelos olhos da fé e alguma imaginação, na sala de desenho. A sugestão foi aprovada. O engenhoso cavalheiro cortou a fotografia de um elefante de uma revista, fixou-a ao mapa que tinham concebido e delineou a forma, criando linhas topográficas da colina que não tinham mapeado. A colina em forma de elefante ainda pode ver-se hoje em dia, no canto superior esquerdo da folha 17 de Africa (Gold Coast), da série britânica de mapas I: 62 500.
Esta vitória da imaginação (ou do senso comum) sobre o dever, sobre as restrições da verdade factual, é, evidentemente rara. O mundo a que chamamos real tem fronteiras inultrapassáveis, nas quais o princípio há muito estabelecido de que dois corpos (quanto mais duas montanhas) não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo é rigorosamente observado.


Alberto Manguel - Duccionário de Lugares Imaginários

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