sábado, 12 de dezembro de 2020

ocultamento dos corpos (# 464)

 

Uma cidade que não mantenha os seus mortos longe do olhar, uma cidade onde possam ser vistos jazendo nas ruas e vielas, em jardins e parques de estacionamento, não é uma cidade, mas um inferno. O facto de este inferno reflectir a nossa experiência de vida de um modo mais realista e essencialmente mais verdadeiro não importa. Sabemos que é assim que as coisas são, mas não queremos enfrentá-las. Daí o acto colectivo de repressão simbolizado pelo ocultamento dos corpos.

E, no entanto, não é fácil dizer o que é exactamente reprimido. Não pode ser a própria morte, uma vez que a sua presença na sociedade é demasiado visível


Karl Ove Knausgard - A Morte do Pai

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