sábado, 20 de julho de 2013

# 47



- O que é que qualquer um de nós realmente sabe sobre o amor? - perguntou Herb. - Estou a falar a sério quando digo isto, se me perdoarem a franqueza. Parece-me que somos apenas grosseiros principiantes no amor. Dizemos que amamos o outro e na verdade amamos, não tenho dúvida. Cada um de nós ama o outro e ama-o a sério. Eu amo a Terri e a Terri ama-me, e vocês os dois amam-se. Sabem de que género de amor eu estou a falar. O amor sexual, aquela atracção pela outra pessoa, o nosso parceiro, bem como o simples amor de todos os dias, o amor por aquilo que a outra pessoa é, o amor por estar com o outro, as pequenas coisas que constituem o amor de todos os dias. Também o amor carnal e, bem, chamemos-lhe assim, o amor sentimental, o cuidado diário pelo outro. Mas, por vezes, tenho alguma dificuldade em compreender o facto de também ter amado a minha primeira mulher. Mas amei, sei que amei. Por isso, antes que digam alguma coisa, eu sou como a Terri nesse aspecto. Como a Terri e o Carl. - Pensou no assunto durante um minuto e continuou. - Numa dada altura pensei que amava a minha mulher mais do que amava a própria vida, e tivemos filhos. E agora detesto-a. A sério. Como é que isso acontece? O que é que aconteceu a esse amor? Será que esse amor foi simplesmente apagado do quadro como se nunca lá tivesse estado, como se nunca tivesse acontecido? O que eu gostava de saber era o que lhe aconteceu. Gostava que alguém me explicasse. E depois há o Carl. Muito bem, voltamos ao Carl. Ele amava tanto a Terri que tentou matá-la e acaba por se matar a si próprio. - Herb fez uma pausa e abanou a cabeça. - Vocês estão juntos há dezoito meses e amam-se, é evidente, é um brilho que emanam, mas já amaram outras pessoas antes de se conhecerem. Ambos já foram casados, tal como nós. E provavelmente amaram outras pessoas antes disso. A Terri e eu estamos juntos há cinco anos, somos casados há quatro. E o que é terrível...o que é terrível mas bom ao mesmo tempo, quase que poderia dizer aquilo que nos salva, é que se alguma coisa acontecesse a qualquer um de nós - desculpem dizer isto - mas se amanhã alguma coisa acontecesse a qualquer um de nós, julgo que o outro, o seu parceiro, iria chorar a perda por algum tempo, sabem, mas depois o parceiro que sobrevivesse continuaria em frente e voltaria a amar, arranjaria outra pessoa passado algum tempo, e isto, todo este amor - Meu Deus, como é possível? - não passaria de uma memória. Talvez nem chegasse a ser memória. Talvez seja assim que deve ser.


Raymond Carver - Principiantes - O que sabemos do amor

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