domingo, 22 de junho de 2014

# 124



Será que alguma vez é a altura certa para morrer? Para Flaubert não foi; nem para George Sand, que morreu antes de ler Um Coeur Simple: "Tinha-o começado só para ela, só para lhe agradar. Morreu quando eu estava a meio do trabalho. É assim com todos os nossos sonhos." Será melhor não ter os sonhos nem o trabalho e ter depois a desilusão da obra incompleta? Talvez, como Fréderic e Deslauriers, devêssemos preferir a alegria da não-consumação: a visita planeada ao bordel, o prazer da antecipação, e depois, anos mais tarde, não a memória de feitos mas a memória de antecipações passadas? Assim não se manteria tudo mais puro e menos doloroso?


Julian Barnes - O Papagaio de Flaubert

Sem comentários:

Enviar um comentário