domingo, 22 de junho de 2014

# 125



O pequeno-almoço com Jim costumava ser uma das alturas melhores do dia. Era então, enquanto bebiam duas e três chávenas de café, que mantinham as melhores conversas. Falavam sobre tudo o que lhes vinha à cabeça, incluindo a morte, é claro, e, no caso de haver outra vida, o que é que sobrevivia exactamente. Discutiam mesmo as relativas vantagens e desvantagens de uma morte instantânea e de saber-se que se está prestes a morrer. Mas agora George não consegue lembrar-se das opiniões que Jim tinha a este respeito. É difícil tomar a sério questões como essa. Parecem tão académicas.
Imaginemos que os mortos vêm visitar os vivos. Que qualquer coisa mais ou menos parecida com Jim pode voltar cá para ver como George está a sair-se. Isto seria satisfatório? E valeria mesmo a pena? Na melhor das hipóteses, assemelhar-se-ia decerto à curta visita de um observador de outro país a quem é permitido espreitar por instantes dos vastos campos da sua liberdade e contemplar, à distância, através do vidro, este vulto solitário, sentado a esta mesa, numa sala estreita, a comer os seus ovos escalfados, humilde e melancólico, um condenado a prisão perpétua.


Christopher Isherwood - Um Homem Singular

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